Como Começar na Ilustração Botânica

A ilustração científica é a atividade que usa desenho e técnicas de pintura para documentar espécies da natureza com objetivo de auxiliar a ciência. Sua importância para os estudos e pesquisas é grande, pois complementa o texto que o pesquisador faz para descrever a espécie em questão. São os detalhes representados de maneira fiel à realidade que a distinguem das demais técnicas e que a faz ser uma atividade fascinante. E por ter muitos desafios a serem vencidos, pois o acaso não faz parte, é preciso ter domínio total dos lápis e pincéis.

Vriesea saundersii
A reprodução de uma Vriesea saundersii em aquarela (Arte: Dulce Nascimento)

Começa com desenho, perspectiva e volume – tudo perfeitamente dentro das medidas do elemento vivo como é encontrado na natureza. Apesar de toda essa precisão técnica, cada artista imprime na prancha ou tela sua própria personalidade. Por isso, além de ser um documento de registro para a espécie retratada, é também arte em toda a sua liberdade.

Uma liberdade que exige fidelidade. É a arte em sua função de apoiar a ciência e deixar a prancha como um documento para a posteridade. Por essa razão, ao se aventurar neste ofício é preciso escolher bem  o profissional ou profissionais que irão conduzi-lo a esse mundo de detalhes – que permitem que com clareza e harmonia a mesma planta possa ser reconhecida hoje ou daqui a cem anos.

Essa escolha também deve ir além da técnica em si, mas sobretudo da forma como o professor escolhido se comporta como um todo, com o ambiente e com as pessoas. Porque ilustração científica é um tipo de arte comprometida com esses valores e com a ciência – e, como a natureza, não faz concessões. Ou seja, fidelidade e precisão são elementos essenciais. É reconhecer-se no objeto que se retrata, respeitando as características que aquela planta tem, podendo desta forma reconhecer-se como parte da natureza e de sua incrível biodiversidade. É preciso amar toda a diferença e respeitá-la para sermos absolutos nesse ofício e ter consciência de que se está a fazer uma arte responsável.

Essa atividade conjuga o talento para a arte, a curiosidade para a ciência e a admiração pelos dois. Se você tem essas características vá em frente. Habilidade se conquista com persistência, curiosidade e perseverança. Então comece a observar com toda atenção as texturas, cores e formas de tudo o lhe atrai na natureza. Comece a desenhar tudo que vê, até mesmo um vaso de plantas em sua casa, usando lápis (e depois evolua para as cores). 

Sempre pratique muito durante e após aprender os fundamentos básicos da técnica. Procure vários outros cursos com grandes profissionais do Brasil e, se possível, de outros países.

Eventualmente há exposições sobre a flora e fauna dos biomas nos jardins botânicos, museus de história natural e centro de visitantes em sedes dos Parques e Reservas Naturais. Faça uma visita e aproveite a chance de caminhar por trilhas com guias conhecedores da área e prontos a dar informações apaixonantes sobre as principais espécies. Desde que você demonstre toda curiosidade e interesse, ouvindo com toda atenção que merecem, eles serão recíprocos.

Por todo o Brasil há muitos desses lugares, procure em sua cidade qual seriam e como chegar até eles. Será um ótimo programa e você poderá começar a exercitar a prática do trabalho em campo desenhando as plantas que estão com flor, in loco. Para nós brasileiros esse deve ser um hábito, por vivermos num país tropical com uma natureza gigantesca. Por isso todos os anos eu oriento ilustradores experientes ou iniciantes na Amazônia para a viagem de ilustração botânica pelo Rio Negro. Além de se ter conhecimento da região amazônica, é mais uma oportunidade dos participantes produzirem pranchas de espécies locais e experimentarem o exercício de uma expedição – ou seja, a prática do trabalho em campo em situações típicas e peculiares, como por exemplo desenhar dentro do barco ou de uma canoa nos igarapés e na floresta.

Com alguns bons trabalhos prontos você já pode fazer seu portfólio. Pegue as obras produzidas, coloque uma em cada página protegida com plástico e organize em uma pasta como um álbum.

Com este portfólio em mãos você deve procurar novamente estes lugares onde há pesquisadores, como nos departamentos de pesquisa dos jardins  botânicos, universidades e museus e oferecer seu serviço, propor ilustrar pesquisas, desenhar para material didático, para um manual de campo ou mesmo propor uma exposição. Não esqueça de procurar por concursos no Brasil e no exterior. Não são muitos, mas é mais uma maneira de se estimular e mostrar seu trabalho.

Faça parte de sociedades ligadas à plantas em sua cidade ou região, caso existam. Lá você aprenderá mais sobre as plantas nas palestras e eventos, trocará conhecimentos, conhecerá colecionadores e pessoas com os mesmos interesses em relação às orquídeas, bromélias, etc. 

Eu tive como mentora Maria Werneck de Castro, um ícone para a ciência e para arte da ilustração científica, tanto em manifestos a respeito do ofício como em seus magistrais registros que até hoje podem ser vistos na Biblioteca Nacional. Com ela aprendi a exercer esta profissão conjugando rigor e liberdade a um só tempo, exemplo que carrego para a vida toda.

Maria Werneck de Castro
Maria Werneck de Castro e Dulce Nascimento (Foto: Arquivo Pessoal)

Comecei nesse campo apresentada por Vânia Aida, também ilustradora botânica, com quem fiz os primeiros desenhos como estagiária voluntária no antigo Centro de Botânica da FEEMA – Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente, no RJ. Também fui ao Museu Histórico Nacional e fiz estágio com o inesquecível botânico Luiz Emygdio de Mello Filho. 

Nestes lugares a oportunidade de conhecer ilustres pesquisadores não tem preço, e conheci pessoas que foram essenciais na minha formação de ilustradora botânica, como Pedro Carauta.           

Ganhando a bolsa da Fundação Margaret Mee para estudar em Kew Gardens, em Londres, aperfeiçoei com os ingleses a maestria da profissão em um país mais desenvolvido na prática. Desde que retornei ao Brasil, comprometida em levar à frente este legado, ministro aulas presenciais e pela internet para repassar os conselhos e técnicas que recebi ao longo de meu caminho que já tem mais de 30 anos. Pois essa arte também é movida pela paixão e encantamento. Ao desenvolvê-la, nos conhecemos mais e nos sentimos inseridos no ambiente natural do qual fazemos parte.

Boas-Vindas!

Dulce Nascimento

Queridos amigos,

​Com a chegada de 2020, decidi renovar este espaço para poder divulgar melhor meu trabalho e também oferecer informações sobre ilustração botânica e científica para quem tem interesse. É verdade que o ano já está quase na metade, mas a partir de agora poderemos interagir por aqui e conversar sobre tudo isso e muito mais.

Aqui voltarei a contar novidades sobre o que venho fazendo, mas também pretendo mostrar outras coisas sobre ilustração, botânica e afins. Também há outros espaços no site:

  • Portfolio: para ver um pouco do meu trabalho;
  • Expedição Amazônica: sobre nossa viagem anual à floresta para pintar sua flora in loco;
  • Cursos: para saber mais sobre minhas aulas particulares ou em grupo e sobre os próximos workshops pelo Brasil;
  • Sobre a Artista: para conhecer meu currículo e biografia;
  • Mídia: para ver momentos em que a imprensa prestigiou alguns projetos em que estive envolvida.

E, claro, também há este blog, meu canal de comunicação com vocês e onde apresentarei algumas novidades sempre que possível.

​Sejam bem-vindos!

Um abraço,
Dulce